Os outros
O homem chegava ao velório para dar com os olhos, pela última vez, no Fim.
Familiares, amigos, colegas. Tinha muita gente ali pra fazer o mesmo.
No caixão, a filha atropelada. Saldo aparente da violência: hematomas, dente quebrado, metade de uma sobrancelha, olhos e boca semi-cerrados, nota de dor no rosto adolescente.
"Cuidado pra não se impressionar", diziam alguns ao sair da sala fúnebre.
O homem começou a subir a escada, apoiando-se em corrimões, namorada, moléculas de ar.
O rosto desfigurado pelo sofrimento ainda mantinha, no entanto, os traços conhecidos de todos.
Todos se reconheceram naquele homem despedaçado.
"Perder uma filha é morrer duas vezes"
"É contra as leis da natureza"
"São os filhos quem deveriam enterrar os pais"
Braços longos envolveram o homem e sua dor. Um longo e forte abraço, alguns olhares. Muitos "meus pêsames".
Os braços e pernas o entregaram a outros braços e pernas, que o entregaram para outros braços e pernas.
Quando nascemos, emprestamos pernas e braços outros, até que possamos caminhar e segurar com nossos próprios.
Quando mergulhamos na tristeza mais profunda, é como se voltássemos àqueles primeiros dias. Viramos, por momentos, os outros.
De braços e abraços, pernas e passos, sussurros e palavras, o homem chegou até a filha morta.
E emprestou, da sua menina, algumas lágrimas mais.
Familiares, amigos, colegas. Tinha muita gente ali pra fazer o mesmo.
No caixão, a filha atropelada. Saldo aparente da violência: hematomas, dente quebrado, metade de uma sobrancelha, olhos e boca semi-cerrados, nota de dor no rosto adolescente.
"Cuidado pra não se impressionar", diziam alguns ao sair da sala fúnebre.
O homem começou a subir a escada, apoiando-se em corrimões, namorada, moléculas de ar.
O rosto desfigurado pelo sofrimento ainda mantinha, no entanto, os traços conhecidos de todos.
Todos se reconheceram naquele homem despedaçado.
"Perder uma filha é morrer duas vezes"
"É contra as leis da natureza"
"São os filhos quem deveriam enterrar os pais"
Braços longos envolveram o homem e sua dor. Um longo e forte abraço, alguns olhares. Muitos "meus pêsames".
Os braços e pernas o entregaram a outros braços e pernas, que o entregaram para outros braços e pernas.
Quando nascemos, emprestamos pernas e braços outros, até que possamos caminhar e segurar com nossos próprios.
Quando mergulhamos na tristeza mais profunda, é como se voltássemos àqueles primeiros dias. Viramos, por momentos, os outros.
De braços e abraços, pernas e passos, sussurros e palavras, o homem chegou até a filha morta.
E emprestou, da sua menina, algumas lágrimas mais.
2 Comments:
bah fe..
muito lindo esse texto..me fez pensar um monte...e chorar também.
beijo
e emprestou para familiares, amigos, colegas força para nascer de novo (com ele) ...
lindo texto! envia para ele.
beijo
Post a Comment
<< Home