Friday, November 10, 2006

Acordei com saudade do que não vivi

Depois de três dias ouvindo um monte de gente interessante falando da preciosidade atávica a cada criança pequena, dói voltar ao cotidiano das notícias do mundo e dar de cara com a realidade que nega, desrespeita e violenta os pequenininhos.

"Israel culpa falha técnica por morte de crianças"

Leio este tipo de coisa e me pergunto até quando as crianças receberão "desculpas oficiais" de governos no lugar de atenção, amor e respeito.

A pergunta "até quando" pode soar aberta demais, sem resposta demais, longe demais de ser alcançada. Mas a resposta é muito clara: as crianças serão respeitadas, assim como o serão todos os seres humanos, quando a lógica da exacerbação do capitalismo for invertida.

Não se trata defender um socialismo puído, mas, sim, de acreditar no retorno a um capitalismo original, aliado talvez a uma pressão genuína de todos os povos do mundo pela prática dos direitos às crianças. Nas suas bases, o capitalismo prega a geração de riquezas em benefício de toda a sociedade. A concentração radical da riqueza que vemos hoje é, portanto, uma distorção.

O que vivemos hoje é um câncer que colocou em curso a implosão de culturas, comunidades, valores humanos, meio ambiente, e enfiou goela abaixo um modelo único e obrigatório de ser humano: masculino, branco, bem-sucedido, ocidental e jovem.

Só que o mundo é colorido e do embate entre este modelo padronizado e as 99% cores restantes surge a radicalização do desrespeito em variadas formas: guerras, conflitos, machismo, miséria, brutalidade, violências, medo. Cresce a intolerância que nega as diversidades. E, na ponta mais vulnerável disso tudo, está a criança.

É claro que este é um ponto de vista político-ideológico da história. Penso em escrever, um dia, sobre seu sentido transcendental.

Pra ficar só nessa abordagem, há um monte de bons exemplos que provam que um outro mundo é possível, mesmo que continue capitalista. Um deles é o Grameen, criado pelo vencedor do Prêmio Nobel da Paz deste ano, Muhammad Yunus, indiano. O Grameen é
um banco de empréstimos populares que tirou milhões de pessoas da pobreza. Seu trabalho ressucitou a economia e a capacidade produtiva - e, em última análise, a felicidade - de Bangladesh, numa região completamente estagnada e miserável, provando que o investimento no ser humano e nos seus potenciais é bom pra todos. Inclusive como retroalimentador do próprio mercado.

Na mesma linha está o trabalho do economista James Hackman, outro Prêmio Nobel, só que de Economia. Ele provou que uma comunidade que recebeu investimento em políticas públicas na garantia dos direitos mais elementares das crianças de 0 a 6 anos, em comparação com outra que não recebeu, tornou-se uma sociedade muito mais desenvolvida no futuro, em inúmeros sentidos. Inclusive o econômico.

Enfim...

Acordei com saudade de um mundo mais equilibrado. Acordei com saudade daquilo que nunca vivi.

E acordei com essas frases na cabeça:

"A criança é o pai do homem"
Sigmund Freud

“A nossa verdadeira nacionalidade é a humanidade.”
H. G. WELLS

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