Monday, March 05, 2007

Tríade




Crescente, cheia, minguante. Crescente, cheia, minguante. Assim é a vida da Lua, como é a vida do fim de semana. Cresce num dia quente de pulos de amarelinha na rua e afagos no filhote manhoso de gato preto. Aí pára uma nuvem e esconde o brilho prata: é o homem com epilepsia na porta do restaurante que marca o almoço classe média com sua fratura social exposta.

A Lua cheia, cheia da risada dos irmãos queridos, vira correria para a sacada da casa nova. "Eclipse, eclipse!" "Há quanto tempo não vejo um!" "Que linda a Lua assim, meio laranja apagadinha..." "Será que ela desaparece totalmente?" "Imagina como os antigos tinham medo disso!" "Faziam até sacrifícios humanos" "Mãe, porque a Lua tá assim?" "É que, bem...acho que é porque a Terra tá na frente do Sol, fazendo sombra pra Lua".

Fazendo sombra pra Lua, sim, cuidando dela. Poupando um pouquinho Deusa Hécate de sua tríplice tarefa. Engraçado saber que o Esbá, feito pra contemplar a magia da Lua Cheia, foi eclipsado por uns pares de horas. Prova de que até a Lua merece um descanso. Coisa que Stanley Kubrick não concedeu pra bichinha lá no 2001, Uma Odisséia no Espaço. Mostrou uma lua minguando em cima do monolito que estava na...própria Lua. Seria um de seus sinais ocultos? Ou somente falha humana cinematográfica? Se eu fosse o HAL, ficaria com a segunda opção. Mas eu sou menina, então prefiro acreditar que ele tinha algo mais a nos dizer...

Como eu não vou perder tempo com essas elucubrações, prefiro fazer eu mesma meus sinais, evidentes como a Lua Cheia. Sinais de vida? Sim, há vida na Serra da Cantareira de uma Sampa com três camadas, uma cinza, outra menos cinza e outra azul. Macaquinhos bugios nas árvores do trajeto de 3 km de subida íngreme. Nem acreditava que poderia vê-los, mas os vi. Eram os deuses astronautas? Eram os monolitos naves extraterrestres? Eram os bugios survivers a prova de que ainda temos chance?

Maybe yes, maybe not. To be or not to be. De certo, só a frase: "Agora eu vou sentar aqui nessa pedrona e pensar na minha vida". Sentença que não é minha, mas da filha. Dá pra acreditar? Sinal concretíssimo, este sim, de que meu pequeno milagre de 5 anos de meio é mesmo... um milagre. Florzinha no concreto, pra ser mais clichê. ;-)

E, enfim, a Lua minguou no domingo, como sempre. Minguou de dor nas pernas, de canseira, de um ânimo meio abatido, de corrida pro parabéns do irmão. Minguou até na vela assoprada, no bolo em pedaços, na mordida terminada. Minguou numa palhaçada de tio maluco, afeito a cuidar de sobrinha triste sem dizer palavra. Mas minguou pra crescer de novo, numa segunda-feira. A Lua é morta: viva a Lua!

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Muito bonitinho!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Eu!

8:27 AM  
Anonymous Anonymous said...

bonitinho? devo considerar elogio, crítica ou ambos? ;-)

8:45 AM  
Blogger Juliana said...

Fê!
Belo texto, como sempre. E eu não consegui ver o eclipse da nossa deusa dessa vez... mas em compensação, viste como essa lua cheia anda linda no céu? Há tempos não via uma lua clara, plena e iluminada desse jeito... mesmo aqui em Sampa! Espero que traga bons augúrios pra todas nós.
Bjos, saudades!
Juba (a que não é anônima) ;)

7:49 PM  

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