Friday, December 29, 2006

Vem, 2007, que eu te lasco um beijo!


Tchau! Vou pro mar, que é de onde nenhum ser humano deveria sair nunca. Meu devanário volta no dia 22 de janeiro. Pros que ficam, um pouco de Frenéticas:

Abra suas asas
Solte suas feras
Caia na gandaia
Entre nessa festa

Me leve com vocêêê....
O seu sonho mais lou-ou-ou-ouco
Quero ver seu corpo
Lindo, leve e solto

A gente às vezes, sente, sofre
Dança, sem querer dançar
Na nossa festa, vale tudo
Vale ser alguém como eu
Como vocêê!

Dance bem, dance mal
Dance sem parar!
Dance bem, dance até
Sem saber dançar!

Thursday, December 28, 2006

Boa notícia! Estou grávida!

O deserto é um lugar muito raro. Você está só dentro dele, passa fome, passa sede. Desgasta roupas, sapatos, sola do pé, cria rugas pra não deixar a luz do sol entrar no olho. Esturrica as mãos, transpira todos os seus últimos sais. Se transforma em outrem.

O deserto é um lugar muito interessante. Toda dor que se sente nele dói o dobro, mas é ao dobro acariciada pelo Sol.

É assim que eu estou. Num deserto acariciado pelo Sol.

Deserto existencial, criativo, afetivo, total. Deserto divino.

Meus textos decaem dia a dia, a olhos vistos. Meus pensamentos caem como flechas de um arqueiro diante de um batalhão de soldados. Perfuram, quase sempre, senão o coração, um baço, um flanco lateral, uma tíbia, uma orelha.

Me transformam em outrem.

Meus sentimentos transmutam. Passam do estado sólido ao líquido ao gasoso ao sólido ao meio líquido. Será que um dia vão escolher um estado e fixar residência?

A solidão do deserto é a solidão de quem assume o que sente e o que é.

"Essa coisa que sermos exatamente quem somos ainda vai nos levar além"

Será mesmo, Leminsky?

Essa coisa de ser exatamente essa menina que sou assusta. Me faz maior na medida em que mais imperfeita.

Paciência! Se ninguém pode andar de mãos dadas de verdade com uma mulher assim assustadora, que eu mesma me acolha dentro de mim.

Que eu mesma me geste.

Eu não preciso de ninguém para me parir.

Wednesday, December 27, 2006

Não e Sim

Aí vai a minha mensagem para 2007, emprestada do Osho:

"não, NÃO, Não, NÃO, não, não, Não, NÃO, não, não, Não, não, NÃO, Não, NÃO, não, não, Não, NÃO, não, não, Não , Não, NÃO, não, não, Não, NÃO, não, não, Não, não, NÃO, Não, NÃO, não, não, Não, NÃO, não, Não, NÃO, não, não, Não , Não, NÃO, não, não, Não, não, não, Não, NÃO, não, não, Não, não, NÃO, Não, NÃO, não, não, Não, NÃO, não, Não, NÃO, não, não, Não , Não, NÃO, não, , Não, não, NÃO, Não, NÃO, não, não, Não, NÃO, não, Não, NÃO, não, não, Não , NÃO, não, não, Não, NÃO, não, não, Não , Não, NÃO, não, não, Não, NÃO, não, não, Não, não, NÃO, Não, NÃO, não, não, Não, NÃO, não, Não, NÃO, não, não, Não , Não, NÃO, não, não, Não, não, não, Não, NÃO, não, não, Não, não, NÃO, Não, NÃO, não, não, Não, NÃO, não, Não, NÃO, não, não, Não , Não, NÃO, não, , Não, não, NÃO, NÃO, não, não, Não, NÃO, não, Não, NÃO, não, não, Não , NÃO, não, não, Não, NÃO, não, não, Não , Não, NÃO, não, não, Não, NÃO, não, não, Não, não, NÃO, Não, NÃO, não, não, Não, NÃO, não, Não, NÃO, não, não, Não , Não, NÃO, não, não, Não, não, não, Não, NÃO, não, não, Não, não, NÃO, Não, NÃO, NÃO, não, não, Não, NÃO, não, Não, NÃO, não, não, Não , NÃO, não, não, Não, NÃO, não, não, Não , Não, NÃO, não, não, Não, NÃO, não, não, Não, não, NÃO, Não, NÃO, não, não, Não, NÃO, não, Não, NÃO, não, não, Não , Não, NÃO, não, não, Não, não, não, Não, NÃO, não, não, Não, não, NÃO, Não, NÃO...

NÃO

O não é como uma rocha sobre uma fonte; a nascente está sendo esmagada por ela, e essa nascente é você. Com o não, você permanece mutilado e paralisado.

Continue a martelar na rocha no não, e um dia a rocha dará caminho; e, quando ela o fizer, surgirá o sim, o sim autêntico. Não estou dizendo para fingir o sim ou para dizê-lo quando ele não estiver vindo a você. Se ele não estiver vindo a você, não há com o que se preocupar: continue martelando na rocha.

Não aceite o não, porque você não pode viver em um não. Você não pode comer não-comida, não pode beber não-água. Ninguém pode viver no não - você pode somente sofrer e criar cada vez mais infelicidades. O não é o inferno. Somente o sim traz o céu para perto, e, quando surge um sim real a partir de seu ser total, nada fica para trás. Nesse sim você se torna uno e toda a sua energia se move para cima e diz: " Sim, sim, sim!"

Esse é o significado da palavra amém. Toda oração deve terminar com amém - que significa " sim, sim, sim ". Mas ele deveria vir de suas próprias entranhas. Ele não deveria ser um assunto da mente, não deveria estar apenas nos pensamentos. Não estou sugerindo que você o diga; estou dizendo que você abra o caminho para ele vir."

Tuesday, December 26, 2006

"O jardineiro é Jesus"

ou...

Cenas do meu Natal:

1 - Rever as velhinhas cara-de-pau das minhas avós, juntas, falando besteira.
2 - Descobrir que a vó Maria é "soprano" e canta no coral da Seicho-no-Ie.
3 - Reviver a cena do vô Mando dormindo de bocona aberta, pós-almoço.
4 - Parar por um segundo e exclamar mentalmente: "Caçarola, esses caras já tão com mais de 80 anos!"
5 - Receber emails e ligações de amigos queridos.
6 - Ganhar MP3 e camisa do Palmeiras.
7 - Sacar que a existência mais importante é, infelizmente, aquela que emerge quando uma pessoa já não está mais entre nós (essa é para você, Sr. Gerhard).
8 - Ver a filha ficar boa da catapora, como num passe de mágica, ao longo do dia 24.
9 - Conseguir comer um Fiesta feito - aos trancos e barrancos - por mim mesma!
10 - Fazer 15 medidas de arroz e não explodir a cozinha.
11 - Reviver o brilho do olho da Nina, de cara com o Papai Noel.
12 - Perceber que, apesar das críticas, ainda não inventaram época do ano melhor para fazer e desejar o bem.
13 - Discutir política na mesa e ver que o velho pendor anarquista da família continua firme.
14 - Estrear roupa nova (claro!). Estrear borboleta pousando na roupa nova.
15 - Ser cobaia da Wella e no final dar tudo certo.
16 - Ficar agoniada com o presente pedido pela internet que não chegava nunca.
17 - Se pegar cantando "Então, é Natal..." ao melhor estilo Simone
18 - Olhar o Ratzinger na TV e pensar: "Que cara feio..."
19 - Começar a sonhar meio acordada com minha prancha e com as ondas da minha Peruíbe.
20 - Comer, beber, viver.

Momentos de reflexão

Como já dizia o profeta Renato Russo:

"Tudo é dor
E toda dor vem do desejo
De não sentirmos dor"

Como já diziam os budistas:

"Acolhe tua dor com ternura e sinceridade, e ela irá embora."

E como já dizia eu:

"Puta que pariu, que tristeza féladaputa é essa!?"

Thursday, December 21, 2006

Power of losers de Natal


Famílias Simões, Bernacci e Favaro em momento de profanação e heresia. Da esquerda para a direita: Keley, Júnior, Verinha (até tu??), Alê, Luciano, Eric e Giulia.

Depois tem gente que ainda se choca com minhas intervenções Monty-Phytonianas.

Wednesday, December 20, 2006

Dói assim?

Sempre me achei meio sozinha. Desses que ainda enxergam a cor da asa da borboleta. Mas hoje me deram uma mão. Uma mão suja, sim, mas não por roubar dinheiro público ou manifestar ditadura disfarçada de democracia.

Mãozinha mais encardida de tinta preta essa que me estenderam! Descartável: vai virar papel de embrulhar peixe amanhã. Geni: criticada e apedrejada, como toda a imprensa, hoje e sempre. Como todo jornal e toda idéia.

"Apenas a sociedade mobilizada pode mudar esse roteiro." (Folha de S. Paulo - Editorial - 20 de dezembro de 2006)

Foi velha Fôia de S. Paulo quem me estendeu a mão. Me deixou menos sozinha em minhas caraminholas brasilianas, essa féla da p... Não esperava escutar esse sussuro baixinho logo cedo: "vai...acredita..."

Crença. Um istmo que ainda pulsa na sobrevida do pobre e, hoje, na voz de muita gente simples, dos busões da vida. A porra do istmo que faz a gente viver sambando.

"É, nóis tem que fazê alguma coisa, senhora, não vai cair do céu não" (De cobrador para passageira, linha Itaim-Diadema, 20 de dezembro de 2006)

A frase que faz, de tantos sonhadores, sambistas solitários, ganhou um certo ecoar.

Quem sabe ela não contém a faísca de um recomeço ou retentativa?

Quem sabe a vida ainda é, sim, sonhar e sambar?

Quem sabe o lutar de coração ainda é uma fantasia de carnaval que a qualquer hora pode voltar à avenida? Ou que nunca saiu: só estava esquecida no fundo do guarda-roupa existencial mofado em que nos prendemos.

Ou será que o sentido de ser brasileiro ganhou um jeito novo de ser vestido?

Ontem: ideais, grandes heróis, armas, guerrilhas. Hoje: consciência despertando, heróis anônimos, muitos deles, muita gente, sofrimento e glória alterando momentos, comunidade e individualidade tentando andar juntos, ganando complementariedade. E faíscas de mobilização.

Quem sabe...

"...faz a hora, não espera acontecer."

Quero agir. Me mover. É o único jeito de aliviar um pouco essa dor gigante de ainda acreditar. Dói assim em você também?

Tuesday, December 19, 2006

Uma jornalista e um bar













Monday, December 18, 2006

Inshallah e a gota dourada da sabedoria

Um rino-conto persa e alérgico a pó

Capítulo 2: Inshallah vai à gruta dos fanhos

Dias e noites passaram. Inshallah crescia, livre, correndo em meio a campos verdes e lírios perfumados. Suas perninhas narigais só paravam mesmo para apreciar a música suave das harpas e das violas, tocadas por dedicados amos. Ou por causa de outro clichê de história medieval que a sua imaginação lembrar.

A magia da infância passava na mesma velocidade de um espirro, para ela. Só que um espirro em câmera lenta, daqueles bem cheios de pingos e melequinhas verdes. Sendo que os pingos e melequinhas eram cada uma das intensas experiências tragadas por aquelas narinas ávidas por aventuras. A vida era um eterno o paraíso colorido para ela.

Foi lá pelos 11 anos de idade que Shallah passou da posição de alvo de admiração para alvo de planos. Os pais, que antes assistiam a liberdade da pequena com orgulho, começavam a se preocupar com o lugar que aquela nariga deveria ocupar na linhagem real. Enviá-la para fora, para estudos de matemática e literatura, iniciá-la nas artes da guerra e da política, prepará-la para ser uma verdadeira princesa e exercer seu papel de sucessora do reino! Todas as melhores idéias e tudo o que existia demais adequado para uma nariga real eram bem-vindos.

Aos poucos as tendências da pequena foram se revelando. Sua habilidade com a esgrima de ponta de nariz só poderia ser comparada a das grandes napas pontiagudas romanas. Aos 12 anos, as primeiras fusquinhas começavam a despontar, com graça e leveza, mostrando que a baixinha também levava jeito para requebrar o septo. Logo a colocaram na dança do ventre.

Aos 15 anos, idade da iniciação de todos os jovens príncipes e princesas de Napallah, Shallah recebeu de majestades Bolinhallah e Destacadão a mochila da busca.

- Pronto, filha. Até aqui nós te preparamos para tudo o que você terá que enfrentar. Agora é com você. Você terá que ir embora.

- Mas, papai, para onde vou? Como vou fazer sem as fungadinhas de vocês dois de noite, na minha cama?

- Isso é você quem vai descobrir.

- Como?

- Você precisará ir para a Gruta dos Fanhos. Lá você encontrará a resposta.

Continua...

Wednesday, December 13, 2006

Fruto

Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo, presa na poeira

Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher
E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto, flor do seu carinho

Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta
Que hoje eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também

E que a atitude de recomeçar é todo dia, toda hora
É se respeitar na sua força e fé
E se olhar bem fundo até o dedão do pé

Eu apenas queira que você soubesse
Que essa criança brinca nesta roda
E não teme o corte de novas feridas
Pois tem a saúde que aprendeu com a vida

Gonzaguinha

Monday, December 11, 2006

"Como viver junto"

Com esse tema, a 27ª Bienal de São Paulo está chegando ao fim. No link que está nesse texto você pode encontrar tudo sobre aquela que já está sendo considerada uma edição definitiva na trajetória das Bienais de Sampa. Portanto vou deixar o informativo um pouco de lado e simbora pras impressões pessoais da visita feita ontem.

Arte ou jornalismo? O tema é daqueles que, à primeira vista, podem confudir pessoas que estão em crise de relacionamento. "Como viver junto", convenhamos, poderia ser, facinho facinho, o título de um livro de auto-ajuda para casais desesperados.

O fato é que o tema é político. Dou aqui o meu primeiro ponto positivíssimo a esta Bienal. Das algumas que já visitei, essa foi a mais crítica e mais atual. Na minha opinião, quase que uma Bienal jornalística - não à toa, com muita foto-instalação. Realidade social, convivência em espaços partilhados, saldo de conflitos armados, distorções produzidas pela exacerbação do capitalismo, relações fronteiriças, o domínio das trademarks, está tudo lá, e tudo muito amarrado. Destaque para a obra do fotógrafo israelense que retratou as diamétricas distâncias entre as condições de vida dos povos israelense e palestino (não anotei o nome do gajo, desculpem!).

Acervo "da hora" (literalmente). Não li a respeito dos artistas, mas o pouco que sei é animador. Esta é a primeira Bienal que não tem "jabá" de consulado disputando espaço com Picassos da vida. Explico: até 2004, o acervo era composto por chamarizes de público, tipo Picasso, misturados com indicações dos consulados dos países convidados, muitos de qualidade questionável. Este ano, o grupo foi escolhido à dedo pela curadoria, resultando no que há de mais vanguardista e contemporâneo.

Talvez por esse aspecto menos comercial, tive a impressão de ver um público mais iniciado em arte rodando pelas instalações - e não só "turistas" como eu, que se enfiam no meio de instalações esquisitas para tirar uma foto pagando mico. Por outro lado, esse mesmo público é aquele dos "comentários conceituais e viajandões"... bem, nem tudo é perfeito. No quesito vanguarda, destacaria várias obras, mas uma que chamou muito a atenção é uma escultura feita em açúcar - isso mesmo - mostrando prédios e monumentos de diferentes países feitos sem referência de escala (não anotei o nome do gajo, desculpem!).

Cem video-instalações e uma confissão.
Como sempre, muitas, muitas vídeo-instalações. E uma descoberta pessoal: uma das coisas que mais me desanimam nas Bienais são... vídeo-instalações. Obras de arte que se deixam descobrir logo de cara, tudo bem, não devem lá ser obras com grande valor artístico. Mas que estranho poder é esse, dos vídeos, de se tornarem tão enigmáticos a ponto de pedirem leituras prévias sobre a... biografia de seus autores? Pois colocar um vídeo de um cara andando de bicicleta e dizer que aquilo é uma crítica à sociedade vai além - muito além - do que pessoas não iniciadas e iluminadas alcançam. O mesmo com o vídeo que mostrava, durante uma hora, um barco velho atracado numa praia do Nordeste.

Enfim...depois de quatro ou cinco desses, eu já entrava com aquela dúvida politicamente incorreta: "será que aqui vai ter alguma coisa que preste?". Mas nem tudo está perdido, é claro: gostei muito do singelo, bem-humorado e completamente non-sense: Colibri induzido a sono profundo. (não anotei o nome do gajo, desculpem!)

Samba, narguille e maracas.
Muitas técnicas, estilos, linguagens, cores, raças e times. Gente de muitos países. América Latina, África e Oriente Médio bem representados. Gostei muito de ver que essa Bienal saiu um pouco do eixo Brasil-Europa-Estados Unidos e está olhando mais para o mundo ao redor. Afinal, o mundo fora do eixo Europa-EUA é que está sofrendo muito mais com conflitos armados, pobreza extrema e falta de esperança, certo?!

Destaques para a série de fotos sobre os hutus africanos, as instalações de artistas do Oriente Médio, como a da kuwaitana Abdullah Salem, e para a obra crítica ao estereotipo do carro Opala como veículo ligado à repressão militar e à criminalidade (não anotei o nome dos gajos, desculpem!).

Bienal e criança: nada a ver.
Acho lindo, mesmo, quando vejo aqueles pais zelosos da cultura de seus filhotes explicando as obras para seus rebentos. A arte não é nada mais que um jeito diferente de fazê-los entender o mundo e exercitar a sensibilidade que certamente precisarão no futuro, seja como suporte emocional ou como manual de instruções para um planeta cheio de zonas obscuras. Mas confesso que, se eu fosse a Nina, faria até pior do que ela fez nessa Bienal. Afinal, como explicar para a pequena porque o genial Hélio Oiticica (HO) passava horas se enroscando em seus Parangolés? Nenhum ser humano de 5 anos merece passar por isso com 5 anos. Quem sabem daqui mais uns 5 anos? Isso se ela não passar a odiar museus, tamanho o trauma causado ontem (rs).

Brincadeiras à parte, se você decidir ir com criança, fica a dica: se aparecer um HO na sua frente, explique que o cara faz aquilo porque é doido. Assim, beeem politicamente correto. E corra para a instalação "altamente micável e fotografável" mais próxima.

Em um próximo post, colarei algumas fotos dos micos pagos por nós em duas ou três instalações - e mais impressões, se der na telha.

Thursday, December 07, 2006

Segundoz de estupidês

Episódio de hoje: no Jardim da Infância.

- Oi, nenê, posso ver?
- Num vai chovê!

- Filhinha....faz xiiiiis!
- (língua)

- Vai tomar banho agora!
- Eu não, sua cara de amora!

- Ah, caiu, né? Bem-feito!
- Beija a bunda do prefeito!

- Ah, é? E daí?!
- Bebe xixi!

- Êeeita, caiu de novo! Machucô?
- Come cocô!

- Deixa de ser mané!
- E você tira essa cara de jacaré!

Inshallah e a gota dourada da sabedoria

um rino-conto persa e alérgico a pó

Capítulo 1 - Inshallah é espirrada

Esta é a história da pequena Inshallah. Na verdade, grande Inshallah. Inshallah, uma nariga persa. Princesa do sultanato persa de Napa-llah. Inshallah, e sua busca pela iluminação, digo, umidificação.

Inshallah era o fruto do amor entre dois nobres narizes: o sultão, Destacadão, e sua rainha, Bolinhallah. Destacadão, bem, era um nariz à frente de seu tempo - muitos centímetros à frente. Bolinhallah, outrora chamada apenas de Lallah, era a nariga mais redonda e pequenina que jamais houve em toda Pérsia. Óculos nenhum resistia a meiguice de suas fusquinhas - e ao seu poder de sustentação de hastes.

Num dia de primavera, quando o Sol brilhava de um jeito novo e as flores exalavam um estranho perfume, notado por todos os narizes alérgicos a pólen da região, Destacadão e Bolinhallah deram sua primeira cafungada real. Da troca de fluídos nasais, concebeu-se Inshallah.

A gravidez transcorreu tranquila para mamãe Lallah. Vez ou outra sentia dores, mas na maioria dos casos eram só contrações nasais leves. Ou aquelas caquinhas secas tentando se desprender de sua parede nasal real lateral.

Então, numa noite de inverno...

- Oh, querido rei, este chá está mesmo uma delícia, e que fragrância de jasmin e rosas. Acho que vou....eu vou...a....a....

- Aaa....atchim!

Num grande e sonoro espirro, Bolinhallah deu a luz à Inshallah. E em todo o reino houve regozijo e celebração!

Continua...

Wednesday, December 06, 2006

Sobre alimentos que mastigo bem devagar



Dizem: uma mulé mãe, marida, jornalista, dona de casa, cozinheira, conselheira, mediadora de conflitos, pau pra qualquer obra, militante, blogueira (blablabla) pode desempenhar todos esses papéis muito bem. É tudo uma simples e objetiva questão de querer ou não querer. Uma vez que se quer, têm de se desdobrar em mil, se superar diariamente, ser maior até que seus próprios sentimentos mundanos. Heroínas modernas, fodonas, wonder women, que devem esquecer de si mesmas e de seus prazeres.

Digo: dane-se! Faço o meu melhor, ainda que o meu melhor não deseje ser diretora de multinacional, mãe perfeita, santa, nem adquirir com um carro importado. Eu quero mais é viver sem gastrite. Eu quero mais é perder horas, dias, vagarosamente me descobrindo. Eu quero mais é diversão. Eu quero mais é alimento sensorial. Pode ser de qualquer tipo: família, filha, cinema, museu, show, viagem, praia, sol, amigos, bar, confissões, televisão...Pode ser besteirol ou terapia. Filme de ação ou europeu. Pode ser de qualquer jeito: lendo em pé no metrô, dançando de camisola no meio da sala, blogando nos intervalos do trampo, comendo um habibão com uma amiga querida, entrando fortuitamente numa exposição só porque achou o assunto legal.

Dane-se se o mundo quer rapidez, eficiência, superação. Eu quero andar devagar, curtindo até mesmo o barulho do busão ao partir, na falta de outro melhor para ouvir. Ou do avião que começou a manobra de aterrisagem. Ou - raridade! - do sabiá laranjeira na árvore que insiste em ficar em pé, numa rua cinza qualquer de Sampa. Tudo me alimenta. E mastigo tudo bem devagarinho.

Eu quero mesmo é perder meu próximo domingo como perdi o último. Dentro de um Centro Cultural Banco do Brasil deslumbrante, entendendo e desentendendo de arte. Aprendendo que a litogravura teve na Itália e na Alemanha seus grandes mestres. Sabendo que a gravura tem umas cem maneiras de ser feita. Descobrindo um instrumento chamado Buril, inventado pelos italianos, que revolucionou o jeito de gravar. E que Santo Gutemberg continua firme e forte olhando por nós, pobres escrevinhadores.

Quero perder mais domingos da minha vida sabendo que ao lado de Da Vinci e Michelângelo, o mundo teve outros gênios, como Holbein, Beckmann, Kandinsky, Morandi, Goltzius, Hogarth e Piranesi. Quero fazer reverência exagerada para a obra "Jackie O.", de Warhol, pra rir logo em seguida. E continuar rindo da figura do homem que, um século antes, teria inspirado os traços do marinheiro Popeye.

Quero sentir na pele arrepiada a delicadeza e poesia de Klee. Ou deixar que este arrepio venha pela série "Guerra", de Goya, sobre o saldo dos conflitos em que Homem se mete desde tempos imemoriais. Quero descobrir que serigrafia e silk-screen significam a mesma coisa. Ver espelhadas, nas obras, fragmentos de momentos históricos e artísticos como a Santa Inquisição, Renascimento, Impressionismo, Cubismo, Ditadura Latino Americana, etc.

Se você é assim, como eu, esfomeado de arte (e vida), fica a dica: abra um espacinho nesse seu cardápio cinza de cidadão de classe média urbana e vai comer Impressões Originais: A gravura desde o século XV, em cartaz até o final de semana que vem aí, no Centro Cultural Banco do Brasil. Ou se preferir, fica meu convite: que tal juntarmos uma trupe para um momento "Curtindo a Vida Adoidado" na Bienal de Sampa?

A obra acima, de Linchenstein, faz parte da exposição.

Tuesday, December 05, 2006

Volver

Aquilo que nos une, mulheres latinas. Aquilo que nos faz fortes e decididas. Que nos mantém eretas ainda que sob intenso vendaval. Que nos mantém ligadas às nossas raízes multiculturais e multiétnicas. Aquilo que nos faz diferentes de todas as outras mulheres do mundo.

Aquilo se chama... nossos corações. Um brinde à nós nesse final de terça-feira insana.

Si me quieres, quiéreme entera
no por zonas de luz o sombra…
si me quieres, quiéreme negra y blanca.
Y gris, y verde, y rubia
quiéreme día, quiéreme noche…
Y madrugada en la ventana abierta!
si me quieres, no me recortes
¡quiéreme toda…. o no me quieras!

Dulce Maria Loynaz, poetisa cubana

Monday, December 04, 2006

Frase do dia

"Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez"

Fabrício Carpinejar

Hoje eu vi um drogadito



Tudo bem, tudo bem. Eu sei que você é uma pessoa correta, ética, acima de qualquer suspeita. Executa suas tarefas com esmero, é limpinho e asseado, tem "responsabilidade social", "gosta das pessoasss", paga seus impostos em dia e etc. Mas, me engana, vai, que tu não larga um besteirol de vez em quando? E do tipo mais besta ou mais politicamente incorreto, ahn, ahn?

Pois saia do armário, meu amigo ou minha amiga! Deixe esse seu lado Banana Joe fluir. Ou o seu lado Woody Allen, se você for um cara mais sofisticado. Sinta a diferença entre o pesado ar anterior à piadinha e a leveza posterior às risadas. Vou te contar uma coisa... Eu era igual a você: sisudo, sério, denso. Ok, continuo um pouco densa de vez em quando, vide alguns posts lá embaixo. Digamos que apenas aperfeiçoei um titico minha visão do feminismo, do capitalismo - enfim, de todos esses "ismos" bem leves. Mas me libertei de uma vida monobloco. E isso, graças às influências humorísticas que tive na vida. Tudo começou em 1996....música de túnel do tempo

Parênteses: Pular para o ano de 1996 é só para resumir esse texto. Minhas influências datam talvez desde os cinco ou seis anos de idade, quando meu avô punha a gurizada pra ouvir o antigo programa humorístico "Turma da Maré Mansa" no radinho de pilha. Boas noites oitentistas à luz do luar do interior...Ou quando, na mesa do jantar, imitávamos Dom Lázaro Venturini, personagem do Lima Duarte da novela "Meu bem, meu mal", dizendo com a boca torta: "Eu prefiro melão".

Voltando ao ano de 1996. Primeiro ano na Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero. Classe do 2º Jornalismo D. Fundão. Foi lá que, entre uma aula de Filosofia e de Jornalismo Econômico, tentei meus primeiros efeitos sonoros (calma, continuo limpinha e asseada). Um exemplo: era só um amiguinho começar a flertar com uma amiguinha, e pronto: eu puxava o coro da música tema do filme Love Story, em forma de "tchuru-ru-ru-ru" e o povo caia na gargalhada.

Entre outras trilhas sonoras executadas em plena multidão, pratical jokes, expressões e imitações, esta é uma bobeira que até hoje "executo" em situações diversas, incluindo trabalho - para alegria ou tristeza dos meus colegas.

Mas a vida continuou e, com ela, meu repertório cresceu. Eu tinha um amigo, quero dizer, ainda tenho, um dos melhores, chamado Giodelcson. Com este nome você não poderia esperar outra coisa. O cara é uma figura. Punk do Jardim Ângela, é fã de carteirinha do Odair José, e curte tudo o que de mais underground e brega existe na nossa cultura. Foi Gio, hoje repórter da madrugada do Diário de São Paulo, quem me apresentou às músicas de Falcão, o maior filósofo brasileiro. E se até hoje me pego proferindo frases como "a burguesia fede, mas tem dinheiro pra comprar perfume", a culpa é de ambos.

Nessa caminhada pelo dever do besteirol, conheci outras pessoas muito interessantes. Uma delas aperfeiçoou seu rol graças a tanta convivência conjunta: meu irmão Luciano, com quem compartilho singelas piadinhas sem o menor sentido. Desde os tempos de férias escolares de pé no chão no sítio dos avôs, temos quase que um código babaco-secreto entre irmãos. Vai misturar Monthy Python com Maré Mansa, dá nisso.

No alto dos meus 28 anos, continou nessa vida de mandar emails ou torpedos para ele sem nenhum texto, apenas com frases nonsense como: "Hoje eu vi um nenê num repolho". Às quais ele me responde com criativos: "Hoje eu vi um drogadito" Fazer o quê? São essas vozes dentro da minha cabeça..

Esqueço de alguém? Ah, sim, esqueço de Larissa, amiga baiana com quem troco alguns "Blá". O Blá, e suas variantes Blé e Bli, são cumprimentos alienígenas cuja tradução mais aproximada é "oi, tudo bem, eu estou bem, espero que também estejas". Com Lari troco também textos inspirados do Zé Simão e impressões sobre as melhores piadinhas do último Casseta e Planeta - nas raras vezes que consigo assistir. Graças a esse intercâmbio, hoje nós duas somos sócias da campanha "Não solte pum no elevador".

Juntam-se a eles todos os amigos Andréa e Dézão, sonoplastas disfarçados de comunicólogos, Taís e seu "Momento Doutores da Alegria" (pó-pó-pó-pó-pó-pó...) e Juliana, mana de fé, com quem levo papos inspirados sobre coisas sem a menor relevância para o desenvolvimento sustentável da humanidade. Como a criação da "The Feno´s Hair Power Secret Society", sociedade secreta de pessoas que têm os cabelos em forma de rolos de feno e que, tal e qual... rolos de feno, rolam (literalmente) em contato com o ventanias. Um dia faremos um post conjunto a respeito, não é, Jubs? The power of losers will lead us forever.

A saga termina aqui. Espero que entenda o sentido profundo dessas palavras e não desista de ser meu amigo depois disso. No fundo, no fundo, eu sou normal. Só queria que você também soltasse a franga de nariz de palhaço que existe no seu "eu" interior. Só toma o cuidado pra não fazer isso na frente das crianças, tá bom?