Wednesday, February 28, 2007

Tenha um bom dia!



"Metade dos sem emprego é jovem"

"Controle sobre o Bolsa Família é precário"

"Mapa mostra onde risco de morrer é maior"

"Jovem morre mais nas metrópoles"

"Bebê indígena morreu por falta de comida, dizem pais"

"Nove em dez jovens internados por crime não têm ensino médio, diz estudo"

(fontes: Folha e Estado de S. Paulo - 28 de fevereiro)

Tuesday, February 27, 2007

Metamorfoses

Ele era apenas um moço...












E se transformou num ícone infantil da Vinte e Cinco de Março...







Glup, glup, glup...



O circuito está completo: sou movida à café. A transformação do tanque à água e pitadas de outras bebericagens para um total flex com preferência pelo pretinho está terminada.

As primeiras peças começaram a ser trocadas há mais ou menos uns cinco seis anos, quando a máquina começou a ser cada vez mais exigida no trabalho.

Uma estagiária de jornalismo pode sobreviver com um suprimento diário de litros de água, suco e Coca-Cola, e eu sou a prova. Sim, algumas cervejas depois das aulas de filosofia eram bem-vindas, e vinho no jantar - uma tradição de fábrica - ajudava a máquina a se desligar "macio", sem ruídos.

Eventualmente, as peças estagiáricas poderiam aceitar, sem dar pane, um ou outro cafezinho, injetados de maneira cirúrgica para garantir a resistência às jornadas de 8, 10 horas de trabalho. Encher o tanque, no entanto, sempre foi proibido, sob pena do delicado estômago resolver provar sua existência.

Mas isto não era mesmo necessário. A máquina de uma primeiranista de jornalismo é a única capaz de acordar às 5h30 da manhã e ir do extremo sul ao centrão velho dormindo em pé no metrô, sem cafeína. É sua exclusividade trabalhar até às 18h, ir para a aula de taquigrafia e voltar a ver a cor da fronha somente à meia-noite, tudo à base de água.

É...bons tempos aqueles em que a máquina tinha apenas 18 anos de uso, e a garantia ia até a Copa de 2006.

Hoje, as engrenagens outrora ágeis e resistentes começam a produzir seus primeiros rangidos, mais numerosos e ruidosos à medida em que os anos passam. E o pior: a garantia venceu naquele 5x3 da Itália contra a França, após empate. A solução é o aumento gradual da dose de café diária, na tentativa de uma boa lubrificação das peças. Além do mais, tal qual um aditivo aplicado ao combustível fóssil da moda, só o pretinho turbina a capacidade criativa dos trabalhadores de texto. E, no caso dos trabalhadores de texto em crise por todos os lados, vixe... faz a maior diferença!

Vai um cafezinho aí?

Friday, February 23, 2007

Não, muito obrigada



Podem me chamar de repetitiva, mas tenho que falar de uma abordagem do espírito looser em que ando pensando. Quem acompanha meus escritos desde os tempos imemorias de Caindo pra Cima sabe que o meu conceito de "perdedor" não tem nada de ruim, pejorativo ou de auto-piedade. Pra mim, looser é simplesmente quem diz "não, muito obrigada" para alguns dos valores (ou a falta deles) que dominam nosso mundo, que não fazem da sua vida um planejamento estratégico de multinacional (cheio de metas inatingíveis e frustrantes e resultados pautados na eficiência industrial), e não se importam em ser o que são, exatamente do jeito limitado e errante que todo mundo é, sem medo de ser feliz.

Deste meu ponto de vista, nem eu, nem você, nem mesmo o Drummond, que se proclamou gauche, somos completamente loosers, afinal quem é que não se culpa ou se pune por se assumir do jeitinho que é? Atire a primeira pedra quem não se preocupou nem um titico com a inveja, os rompimentos e o incômodo que aquelas quatro ou cinco atitudes realmente legítimas que você teve na sua vida provocaram nos outros.

É esse o ponto central do meu texto, mas não vou me demorar muito. Mesmo tentando trilhar o "caminho certo" o qual, na minha opinião, é o respeito à busca de cada um por sua própria felicidade, será que somos mesmo tão fora do padrão como achamos? Se sim, até que ponto? Tenho minhas dúvidas. Às vezes, acho que as pessoas querem ser loosers só para mostrar o quão diferenciadas são diante de uma horda de pessoas iguais, normais, cotidianas, medianas...Tentam entrar no bonde porque ele confere uma certa aura indie, quando lá no fundo o que querem é faturar algum status, prestígio ou mesmo dinheiro.

Hoje eu brinco muito sobre esse termo, mexo e remexo nas minhas histórias, tiro onda e saio sambando, pois passei uma vida inteira na escuridão do "lado B": da sala de aula, da família, dos amigos, do meu quarto, dos meus desejos, escolhas, complexos e sonhos. Mas não me acho nada especial por isso, pelo contrário, costumo dizer que sou eu e a torcida do Flamengo falando sobre a mesma coisa.

E eu e a torcida do Flamengo perguntamos: quem é realmente diferenciado? O CEO audacioso, viajado, sofisticado, carrão importado na garagem, ou a faxineira que mora na favela, acorda às 4 da manhã, toma ônibus lotado pra trabalhar, volta pra casa, cuida dos filhos e tira uma hora por dia para fazer a lição de casa do Alfabetização Solidária?

A verdade é que o looser é uma questão de ponto de vista. Se o ponto é o do Roberto Justus, claro que o engravatado é o winner da história. Se é do meu, é a dona Maria. Mas, e se alguém me conta que o homem era alcoólatra e passou anos e anos em tratamento para se recuperar do vício? Aí então eu digo que os dois são loosers. Fato: haverá sempre um lado B nas pessoas mais bem resolvidas e integradas ao sistema.

Fato: mesmo sabendo que todo mundo é um pouco looser, não aceitamos essa nossa condição e até lutamos contra ela. Se de médico e louco todo mundo tem um pouco, o que nos incomoda?

Deixo a pergunta em aberto para um quem sabe futuro post.

Thursday, February 22, 2007

Arrepia

Existe uma música que diz que "Quem não gosta de samba, bom sujeito não é. É ruim da cabeça, ou doente do pé". Apesar de gostar do ritmo, sempre achei essa idéia um pouco exagerada e, pior, carregada de uma espécie de preconceito às avessas, como se, por trás do verso, estivesse a ameaça: "quem não gosta de samba, brasileiro não é". Aí seguia acreditando que, talvez, tudo o que falta aos sujeitos supostamente "ruins da cabeça ou doentes dos pés" é passar por uma boa experiência de samba ou carnaval, coisa que nem sempre é possível.

Acho que a minha tese tinha fundamento de verdade. Não sei se fui a única antropóloga de araque nessas horas, mas o que vi no Sambódromo, na noite de sábado para domingo, foi uma explosão genuína de brasilidade e alegria e, sim, samba no pé, de paulistanos que à primeira vista seriam incluídos na ala dos"doentes dos pés". Eis o meu primeiro registro da experiência desse ano no Sambódromo: esse maravilhar-se diante do brilho das escolas de samba. Talvez, um espetáculo tão bonito quanto o tilintar das luzes, batuques e brilhos da avenida.

O carnaval, esse Maluf de todo fevereiro, ou melhor, esse Corinthians, aquele que é amado ou odiado, sem meio termo...

Como integrante do primeiro time, não poderia deixar de registrar no meu cantinho a experiência deliciante de participar da segunda noite de desfiles em Sampa, nesse ano de 2007. Se perdi a chance de falar de outras ótimas experiências de carnaval de anos anteriores, o que é uma grande pena, foi por pura falta de maturidade naqueles idos tempos. Sim, ainda reduzia o carnaval moderno, de certa forma, a palco para o desfile de bundas e peitos siliconados, como muitas pessoas ainda o vêem. Mas agora é diferente. A festa ganhou um significado importante para mim, quando vejo que hoje sou muito mais consciente e bem resolvida com a minha brasilidade.

Desconfio que um processo parecido com o meu tenha acontecido também com outras pessoas que decidiram abraçar a cultura do nosso país com a força que merece ou, simplesmente, assumir tudo aquilo que nos fazem brasileiros, do virtuoso ao criticável.

Pois bem. Longe de tecer uma ode ao carnaval à moda Galvão Bueno, minha alegoria se resume a uma palavra: bateria. Deposito nela a responsabilidade primeira pela minha paixão. Começou quando criança, bem pequena, e fechou um ciclo nesse último domingo. A bateria que arrepia, ensurdece, enlouquece, amplifica a batida do coração para 3000 decibéis, e por aí vai. Ela, em si, já seria um motivo suficientemente forte para que os doentes dos pés se lancem à experiência.

Ainda não deu tempo, mas tenho certeza que, durante todo o meu ano, vou sentir saudade do batuque da Águia de Ouro: mais de trezentas pessoas douradas que se abriam em duas grandes metades para deixar o casal de mestre-sala e porta-bandeira girar livres e esplendorosos, sob os aplausos de milhares de pessoas e gritos de "É campeã!". Sei que vou sentir saudade da força dos mil surdos, que carregam nossas veias de uma energia de terremoto, e dos bumbos, imitando a batida de um grande coração apaixonado. Que assim seja!

Ah, a bateria...mas, chega de poesia e devaneio e vamos a algumas impressões deste ano (sob meu olhar sempre romântico, é claro).

Juras? Acredite se quiser, o Sambódromo no Carnaval é um lugar organizado, limpo (pelo menos no início do desfile), com fartas informações à disposição, seguranças para todos os lados, programa impresso em papel couchê entregue na entrada do Anhembi, gente do bem nas arquibancadas e tudo o mais que eu imaginava ao contrário. Baita surpresa!

Às margens do Tietê eu sentei e chorei. O espírito looser se manifesta de formas sutis, e no carnaval não seria diferente. Claro que fui embora, vencida pelo cansaço e pela manhã que despontava, sem ver a Mocidade Alegre desfilar seu enredo de homenagem ao riso. E, claro, a Mocidade venceu o título.

Só no degrauzinho. Um dos maiores mitos do Carnaval de avenida está desfeito. Sim, é possível sambar no degrau da arquibancada. Inclusive fazendo suas variações mais complexas, como requebrar até o chão e ir girando com as cadeiras. Só não tente fazê-lo após a terceira cerveja.

Foi Foi. A Vai Vai fez um desfile lindo e abocanhou o terceiro lugar, mas, dá licença, foi a Águia de Ouro quem fez milhares de pessoas cantarem seus dois refrões como um verdadeiro hino. Desfile lindo, simples, roots, sobre o nosso artesanato. Amei.

Negra é linda. É bem legal ver a galera negra, especialmente as mulheres, todas poderosas no Carnaval. É uma pena que muitas delas só assumem sua negritude, traduzida na forma de tranças e badulaques afro, nessa época e no dia 20 de novembro, Dia de Zumbi. Elas não sabem o que estão perdendo, pois são lindas e têm tudo para inaugurar uma nova era de valorização de sua beleza e tudo o que de positivo representam para o mundo. E, assim, varrer de vez esse racismo ignorante que ainda persiste na nossa sociedade.

Mas morena é linda também. Ai, gente, desculpa, tá, mas eu também tava um arraso nesse Carnaval...e, ó só, não perco pra nenhuma mulata no quesito samba no pé. Tenho até uma certa vergonha de requebrar em público, pois, afinal, isso não é coisa que uma mãe de família faça na frente dos outros, né? Ainda mais com essa napa italiana que Deus me deu ;-)

Carna-monkeys x torcidas. Esplendor da Rosas de Ouro que não passa no arco do Sambódromo. Aí o esplendor passa na maior dificuldade e a galera da Vai Vai, junto com todo mundo, explode na torcida. Carro todo iluminado que de repente apaga. E o povo “Ahhhh...”. Passista que chora e perde o equilíbrio emocional. E, quando volta pra avenida, refeita, todas as torcidas de todas as escolas explodem em aplauso. Escola que traz cadeirantes e deficientes mentais na avenida. Mais aplausos. Fica a certeza: o Carnaval é a festa do bem, e a torcida é pela felicidade geral e sucesso de todo o espetáculo.

Isso nunca aconteceu comigo antes. Não conta pra ninguém, tá, mas a Mancha Verde me fez broxar. Fala pra mim se tem cabimento colocar badalos de igreja no meio de um samba? Ou é missa do galo ou é festa pagã, decidam-se! Sem dúvida umas das piores misturas que já vi. E o pior de tudo é que o diabo do refrão grudou na minha cabeça: “ó virgem santa, rogai por nós”. Só faltou colocar no Ratzinger como destaque. Mea culpa, mea culpa...

Avassaladora. Comissão de frente da Rosas de Ouro, que dramatizou a cena de “Os retirantes”, de Portinari, uma das pinturas mais contundentes da história da arte mundial, e brasileiríssimo. De arrepiar.

Avassaladora 2. Para alegorizar seu tema sobre a "criação da Terra", a Peruche colocou na avenida um carro com um casal gigante fazendo amor.

Feno é lindo!

Sim, sim, eu vou falar do carnaval. Mas, antes, parem tudo! O Grande Feno pede a reverência geral e irrestrita. Sim, ele, o Deus Supremo, pai de todos os seres perdidos, incompreendidos e abestados, se manifestou em toda a sua força e compaixão neste feriado de carnaval.

Mana Jubs introduziu os amigos Taís e Cris ao grande poder fenístico. A iniciação foi lá em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. E olha no que deu.

Depois da foto, segue o relato da experiência, seguido das minhas boas vindas - afinal, me sinto meio que mãe deste grande movimento (circular) pela paz mundial. Salve, Feno!



Olá querida Fê,

Juliana está aqui em POA e desde que ela chegou lembramos de você em vários momentos.Primeiro, pela saudade e desejo de que você estivesse entre nós para darmos umas e outras boas risadas sobre a vida, o trabalho e tudo o mais que a gente conversava nos idos tempos...
Nesse feriado, Cris e eu recebemos uma capacitação sobre o poder do Feno. Sim, Juliana nos introduziu aos termos, ao mito e aos seus poderes e veja só...ele se manifestou diversas vezes em nossa viagem.(deixarei para a mana Jubs te contar mais detalhadamente essas manisfestações!!)
Em especial no dia 20 de Fevereiro, em Bento Gonçalves tivemos uma rica experiência do Feno.
Compartilho com você algumas das fotos do ritual praticado ao ar livre.
Declaro que todos os cálices de vinho e champanhe que tomamos durante todo o dia não influenciaram em nossa percepção e relação como grande Deus do Feno (será???haha!)

e como diria a música..."Feno is in the air"...hehe...

Beijão
Saudades
Taís, Cris e Jubs


Olá queridas amigas!

Quando já não havia mais esperança em meu coração, quando tudo lá fora estava cinza e triste (apesar do solão de 30ºC), quando tudo havia se resumido ao caos e ao nada, eis que abro esta singela mensagem e obtenho novamente a iluminação suprema.

Tal qual um buda eletrônico, experimentei junto com vocês, através das fotos, a grata sensação de receber as energias positivas da "Grande Circunferência" ou, no caso de Bento Gonçalves, o "Grande Cocozão".

Espero um dia podermos partilhar juntos da mesma sensação não mais eletronicamente, mas sim em carne e osso, para que possamos então fechar o "elo de ligação" desta singela, porém promissora filosofia de vida.

E antes que eu me esqueça, sejam bem vindos, manos Taís e Cris, à "The Feno´s Power Secret Society". Espero que o Feno esteja com vocês, pois, sim, Feno is in the air, Feno Fields forever, We don´t need another Feno, Sou eu bola de Feno, e o calor tá de matar, Eu quero um banho de Feno, It´s rainning Feno, aleluia! - entre tantas outras aplicações práticas do Deus supremo em nossas vidas.

Beijos,
FE, the NO

Friday, February 16, 2007

Momento Ziriguidum


É preguiça de escrever? É, sim, senhor!! Mas também é vontade de sair pulando e jogando a serpentina! Chega de hoje, quero é Carnavalizar!

E vâmo torcer pra Vai Vai, minha gente paulistana. Sábado, 21h30, no Sambódromo.
E pra Mangueira lá no Rio, se Deus quiser! Domingo, 23h10.

”O 4º REINO, O REINO DO ABSURDO”
(SAMBA ENREDO DA VAI VAI, 2007)

È FESTA É CARNAVAL
“SE LIGA NESSA” QUE O ALERTA É GERAL
COM MUITO ORGULHO A “SARACURA”
MOSTRA PRO MUNDO QUE O PLANETA TEM CURA
EU SOU “BIXIGA” QUERO VER QUEM ME SEGURA

EM BUSCA DO SABER EU NAVEGUEI
VI OBRAS DIVINAS
BENDITO SEJA DEUS NOSSO SENHOR O CRIADOR
DOS REINOS NATURAIS
BELEZA, A FORÇA E A RIQUEZA DESSE CHÃO!
A ÀGUA PRA VEGETAÇÃO (PRA VIDA) È FUNDAMENTAL
O VEGETAL, PRO ANIMAL, È ALIMENTO È PROTEÇÃO
E O HOMEM EM SUA EVOLUÇÃO
CRIOU O REINO DA CONTRADIÇÃO

OURO NEGRO QUERO VER, JORRAR.
ESSE BEM QUE FAZ O MAL, TRAZ GUERRA”
BIS: ESSA ENERGIA QUE FAZ A TERRA GIRAR
È O MARCO DE UMA NOVA ERA

VALEU! A PLASTICIDADE FOI BEM VINDA
HOJE TÃO PRESENTE EM NOSSAS VIDAS
DA MAIS SIMPLICIDADE AO NOSSO DIA A DIA
MAS NÃO VALEU, CHEGA DE LIXO E POLUIÇÃO.
SUA DIFÍCIL DECOMPOSIÇÃO
A MÃE NATUREZA NÃO PODE ESPERAR
O MEU “VAI VAI” NESTA AVENIDA ABRE O CORAÇÃO
E PEDE AO POVO CONSCIENTIZAÇÃO
È PRECISO PRESERVAR
O “NEGOCIO” È RECICLAR


"É UMA CASA PORTUGUESA COM CERTEZA"
(SAMBA-ENREDO DA MANGUEIRA 2007)

QUEM SOU EU?
TENHO A MAIS BELA MANEIRA DE EXPRESSAR
SOU MANGUEIRA... UMA POESIA SINGULAR
FUI AO LÁCIO E NOS MEUS VERSOS CANTO À ÚLTIMA FLOR
QUE ESPALHOU POR VÁRIOS CONTINENTES
UM MANANCIAL DE AMOR
CARAVELAS AO MAR PARTIRAM
POR DESTINO ENCONTRARAM O BRASIL...
NOS TRAZENDO A MAIOR RIQUEZA
A NOSSA LÍNGUA PORTUGUESA
SE MISTUROU COM TUPI TUPINAMBRASILEIROU
MAIS TARDE O CANTO DO NEGRO ECOOU
ASSIM A LÍNGUA SE MODIFICOU

EU VOU NOS VERSOS DE CAMÕES
ÀS FOLHAS SECAS CAÍDAS DE MANGUEIRA BIS
É CHAMA ETERNA DOM DA CRIAÇÃO
QUE FALA AO PULSAR DO CORAÇÃO

CANTANDO EU VOU
DO OIAPOQUE AO CHUÍ OUVIR
A MINHA PÁTRIA É MINHA LÍNGUA
IDOLATRADA OBRA-PRIMA TE FAÇO IMORTAL
SALVE... POETAS E COMPOSITORES
SALVE TAMBÉM OS ESCRITORES
QUE ENRIQUECERAM ATUA HISTÓRIA
Ó MEU BRASIL...
DOS FILHOS DESTE SOLO ÉS MÃE GENTIL
HOJE A HERANÇA PORTUGUESA NOS CONDUZ
À ESTAÇÃO DA LUZ

VEM NO VIRA DA MANGUEIRA VEM SAMBAR
MEU IDIOMA TEM O DOM DE TRANSFORMAR BIS
FAZ DO PALÁCIO DO SAMBA UMA CASA PORTUGUESA
É UMA CASA PORTUGUESA COM CERTEZA

Thursday, February 15, 2007

E vem batucada...

Apesar do aquecimento global, do ônibus lotado, da violência, da pobreza, dos cegos, da poluição, do apego, das dores e de mim... deixo o talento de vôo da nossa maior festa preencher o ar de música.

Vem pra minha ala que hoje a nossa escola
Vai desfilar
Vem fazer história que hoje é dia de glória
Neste lugar

Vem comemorar, escandalizar ninguém
Vem me namorar vou te namorar também
Vamos pra avenida, desfilar a vida, carnavalizar

Na Portela tem, Mocidade, Imperatriz
No Império tem, uma Vila tão feliz
Beija-Flor, vem ver, a porta-bandeira
Na Mangueira tem morena da Tradição

Sinto a batucada se aproximar
Estou ensaiado para te tocar

Repique tocou, o surdo escutou
E o meu coração-borim
Cuíca gemeu
Será que era eu?
Quando ela passou por mim
Lá lá lá...


Carnavália

Composição: Carlinhos Brown, Marisa Monte e Arnaldo Antunes

Wednesday, February 14, 2007

Inshallah e a gota dourada da sabedoria

Um rino-conto persa e alérgico a pó

Capítulo 3: Majestades tiram onda

É bem verdade que narizes reais só andam sozinhos e sem escolta nos jardins do palácio, e olhe lá. Para a pequena e frágil Inshallah, porém, o fato de ter sido até então superprotegida por guarda-costas toscos, daqueles cheios de pelinhos pretos saindo pelas narinas, era só mais um motivo para botar o pé na estrada e sair cafungando em busca da verdade. Mesmo que a verdade fosse um buraquinho de onde se ouve: "Geraaaaaldo!".

- Vou encontrar a Gruta dos Fanhos e provar para todos que cresci! (murmurava entredentes a nariga)

Além disso, por mais que sentisse falta de seus pais, eles foram previdentes o suficiente para colocar na Mochila da Busca um suprimento bastante farto daquilo que a mimada princesa mais gostava: potes e mais potes de Rinosoro (hidratação é tudo, dizia mamãe) e oxigênio de vários aromas. Para falar a verdade, o nível de preocupação de majestades beirava o ridículo... Entre os mantimentos para a viagem estava um cilindro de gás hélio.

- Pô, fala sério, será que eles tão tirando onda com a minha cara? Então eu sou jogada do conforto dos meus floridos jardins direto para este mundo empoeirado e alergênico, e papais ainda vem com brincadeira?

Pobre Shallah! Mal sabia ela que aquele mesmo cilindro, que a transportava mentalmente aos seus tenros aniversários comemorados no salão real, quando então o Rei organizava um divertido campeonato de karaokê com voz de Pato Donald, seria o mesmo que a salvaria de sua primeira desventura!

Quem será este primeiro vilão?
Como acontecerá este embate?
Conseguirá a nossa heroína cantar toda a letra de "Sabão Crá-Crá" antes que o gás hélio evapore?
Setembruchóvi?

E, finalmente:
Terá a nossa autora tempo e motivação para escrever um novo capítulo dessa tosquêra sem tamanho?

Acompanhe neste blog!

Tuesday, February 13, 2007

Mudou

Meu ritmo
Meu olho
Meu mar

Meu sonho
Meu brilho
Meu ar

Meu texto
Minha dor
Meus nós

Meu dia
Minha noite
Meu sempre

Meu riso
Meu choro
Meu desejo

Minha magia
Minha história
Meu estado

Meus braços
Meus passos
Meus laços

Mudou
Meu você
Meu nós

Mudou
Como tudo o que nasce, cresce e morre
Um dia, lado a lado
Um dia, de repente
Um dia, desesperado
Um dia, vazio
Um dia, calado
Um dia, em um abraço

Cantar e andar, e tropeçar, e levantar, e cantar, e andar...

Eu quero ficar só
Mas comigo só
Eu não consigo

Eu quero ficar junto
Mas sozinho só
Não é possível

É preciso amar direito
Um amor de qualquer jeito

Ser amor a qualquer hora
Ser amor de corpo inteiro

Amor de dentro pra fora
Amor que eu desconheço

Quero um amor maior...
Um amor maior que eu!

Quero um amor maior...
Um amor maior que eu!

Então seguirei meu coração até o fim
Pra saber se é amor
Magoarei mesmo assim, mesmo sem querer,
Pra saber se é amor

Eu estarei mais feliz, mesmo morrendo de dor
Pra saber se é amor
Se é amor!


Amor Maior - Jota Quest
Composição: Ana Carolina

Monday, February 12, 2007

Looser: recuse imitações



Pé-pé-péééraí! Quer dizer que virou moda se auto-proclamar looser? Ah, não! Previna-se contra falsificações. Só jornalistas com o selo de qualidade "InLooser" são "os legítimos".

Ou vai dizer que você conhece um monte de gente que acumula historietas como estas aqui embaixo, ahn, ahn?

9h da manhã, segunda-feira. O telefone toca. É uma colega do teu trabalho que mal te conhece:
- Oi, Fê...bom dia!
- Bom dia!
- Então, tô ligando só pra te contar que vi um filme muito legal esse findi, e achei a sua cara!
- É mesmo? Que legal, qual é?
- Pequena Miss Sunshine!

22h30, sexta-feira. Sua filha vira pra você e diz:
- Mãe, eu vou ser nariguda?
- Não sei filha...acho que não. Porque?
- Ah, porque eu não quero ter aquele nariz feio que você tinha e aí ficar chorando na escola, né?

19h, terça-feira. Você entra no Orkut e descobre que existe uma comunidade chamada "Bola de Feno". Empolgada com a idéia de uma comuna que explique, definitivamente, uma de suas expressões favoritas*, você entra e se depara com o seguinte texto:
"Esta comunidade é para você, que deixa todo mundo MUDO quando conta uma piada"
E, então, cabisbaixo, você clica em "participar"...

17h20, quinta-feira. Uma amiga te escreve contando que existe uma comunidade que é a "nossa cara" no Orkut, chamada...(rufar de tambores...):
"Blogueiros Loosers" (!!!)
Ahahaha!
Descrição: "Seu blog é traço de audiência? Você nunca recebe muitos comentários? E, ainda por cima, só você acha seus textos maravilhosos? Então aqui é o seu lugar!"

* voando feno

Efemérides em tempos de menopausa grobal

Os tempos mudaram mesmo. Quando eu era criança, a máxima aproximação que a gente tinha com as questões ambientais se resumia àqueles feijõezinhos que plantávamos nos copinhos de plástico, às árvores feitas de papel crepon amassado, em homenagem ao Dia da Árvore (com as variações: plantar uma muda no pátio da escola ou abraçar uma árvore do parquinho), e as toscas e americanizadas tiaras de penas que confeccionávamos para usar na cabeça, no Dia do Índio.

Hoje, em minha peregrinação internética por algum material mais didático para responder à Nina sua atual dúvida existencial: "Afinal, mamãe, meu cocô vai ou não vai para o Rio Tietê?", encontrei um calendário bem bacana, com todas as antigas e novas efemérides ecológicas mundiais e brasileiras.

À primeira vista, parece que a Eco-92 foi eficiente também em cavar espaços no nosso já superhabitado calendário de feriados e efemérides para dar à luz a problemas ultraespecíficos, como o Dia do Pinguim.

Não tenho a menor idéia do poder de mobilização que datas como essas são capazes de despertar num mundo superlotado de informação como o nosso, mas, ao mesmo tempo, vistas no conjunto, elas oferecem um bom panorama de quantos e quão complexos são os temas ambientais desses nossos tempos de aquecimento global total. Ou, pelo menos, uma visão das questões que, na guerra por um "Dia Mundial", conseguiram seu lugarzinho ao Sol.

Outra sensação interessante é de que, se antes se exaltava a beleza e abundância das coisas "verdes" (vide: Dia do Pássaro Brasileiro), hoje as datas estão aí tão somente para gritar por aquilo que já está quase indo para o beleléu.

Para ilustrar, uma listinha de destaques entre as novas efemérides ecológicas. Um belo exercício de criatividade para as professoras que antes explicavam o problema ambiental somente a partir do Dia da Árvore, e para os pais que ouvem regularmente perguntas como: "Mãe, o mundo vai derreter?".

Ano do Golfinho - 2007
2 de fevereiro: Festa do Mar
5 de fevereiro: Dia Mundial das Zonas Úmidas (calma, não é o que a sua cabeçinha suja está pensando!)
14 de março: Dia Internacional de Ação Contra Barragens e Pelos Rios, Águas e Vida
22 de abril: Dia Internacional do Planeta Terra
3 de maio: Dia do Sol
17 de junho: Dia Mundial Para Combate da Desertização e da Seca
10 de julho:Dia do Código das Águas
11 de julho: Dia Mundial da População
27 de agosto: Dia da Limpeza Urbana
16 de setembro: Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozônio
14 de outubro: Dia Internacional da Redução dos Desastres Naturais
16 de outubro: Dia Mundial da Alimentação
17 de outubro: Dia Mundial da Erradicação da Pobreza
22 de setembro: Dia da Banana (será que tem alguma relação com o Dia da Marmota?)
3 de Dezembro: Dia Mundial sem Agrotóxicos
29 de dezembro: Dia Mundial da Diversidade Biológica

Ps.:
É aquela velha história: coisas fundamentais como o "Planeta Terra" não deveriam precisar de um Dia especial para serem homenageadas e cuidadas. Mas, ultimamente, toda ajuda é bem-vinda!

Ps.2:
Antes de você pergunte, eu encontrei a resposta à pergunta da Nina na versão "Kids" do site do Programa Nacional de Racionalização do Uso dos Derivados de Petróleo e do Gás Natural (ufa!), do Governo Federal. Que, aliás, daria numa efeméride verde super in, né não? "Dia Nacional da Racionalização do Uso dos Derivados de Petróleo e do Gás Natural" Coitadas das crianças...

Friday, February 09, 2007

Ei!

Que bom saber que está buscando seu centro.
Que tudo tem seu momento.
(e que, se um dia acabou, é porque nunca pôde nascer de verdade)

Que bom sentir que já sorris ao olhar pela janela.
E que, debruçado nela, olhas para sua felicidade.
(com doçura e força)

Que bom te compreender.
Que bom libertar.

Lembras? "Quem tem um sonho não dança!"

(para um grande amigo, e contrariando o script da vida!)

Meu amigo Erasmus Mundus, digo, Erasmo Carlos

"Pá-pá pá-ra-ra...pá-pá pá-ra-ra..."

Primeiros acordes na telinha, e batata! Era o anúncio triunfante do milenar especial de fim de ano do Rei Roberto Carlos.

"Fim de ano...na Globo!"

Ocasião que muitos de nós aprendemos a reverenciar, lá pelo 35º programa, com um delicado:
"Haja saco, de novo??"

A sequência você conhece! Vamos lá! Entre nesse clima e cante juntinho:

"Quando eu estou aqui, eu vivo este momento lindo.." Tchuru ru ru...

(puxa, até fechei os olhos e bailei na frente do meu PC)

É, meus amigos, é duro de admitir... mas não é que o Rei tinha razão!

"Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi." Óbvio!

Quem diria que aquela música despretensiosa, que batia ponto todo mês de dezembro na TV Globo, abriria uma nova janela d´alma nesse começo surreal de 2007?

Ps.: É mesmo uma pena que muitas pessoas ao redor do mundo não tenham tido o privilégio de passar anos e anos e anos de suas infâncias, adolescências e adultices sendo massacrados por essa letrinha genial de tão óbvia! Quem sabe agora que o Rei anda singrando os setes mares com suas apresentações...



Rei: "Hehehe...São tantas emoções"

Thursday, February 08, 2007

Pero que las hai, las hai!

Eles voltaram!

Olá, amigos brancos! Bem-vindos à minha cabeça! A maquiagem durou pouco, posso ver!

O que dura mesmo é essa luz. Branca.

Mundo, mundo, vasto mundo! Mas minha cabeleira é maior (e cada vez mais clara).

Uma bruxa com 28 anos? Ou 28 vidas?

Pensamento do dia (pra se sentir menos só)


“Todo mundo é um pedacinho do outro!...
todo outro é um pedacinho do mundo!”

Wednesday, February 07, 2007

Lughnasadh

Em tempo: a ilustração de Stephanie Pui-Mun Law, que representa o "Globo", me fez lembrar que estamos em pleno Lughnasadh no hemisfério sul, a antiga festa celta que celebrava a primeira das colheitas do ano. Imediatamente penso na afirmação de Lovelock sobre a atividade agrícola como a primeira interferência do homem, em sua versão hospedeiro, sobre a Terra, e me questiono até que ponto podemos nos culpar pelas escolhas de nossos ancestrais. Em última análise, é como se tudo aquilo que crescemos acreditando como sinais de nossa complexa evolução espiritual tivessem se transformado, da noite para o dia, num câncer planetário que devemos combater com nossas próprias vidas.

Sei que teremos que encarar a nós mesmos num dia bem próximo, ainda que a destruição tenha começado há muitas eras, e enfim decidir entre os dois únicos caminhos possíveis. Minhas dúvidas são: teremos coragem para dar o primeiro passo e caminhar sem olhar para os lados até o fim? Teremos calma para dar a mão ao outro? Quem será corajoso o suficiente para abandonar os valores, as crenças e os dogmas de séculos desse modo de vida em que estamos mergulhados, ou mesmo aprisionados?

Talvez, o sentido profundo de Lughnasadh, que tem a luz do antigo Deus Lugh em seu nome, possa dar alguma pista. "Nessa data deve-se agradecer a tudo o que colhemos durante o ano, sejam coisas boas ou más, pois até mesmo os problemas são veículos para a nossa evolução." (fonte: www.oldreligion.com.br)

Sobre Gaia, essa velhinha



Ilustração: Stephanie Pui-Mun Law

Agora é sério.

Sem muito tempo para blogar, mas literalmente perturbada pela pauta negra do futuro do planeta, tenho buscado algumas leituras sobre os prováveis efeitos da escalada de aquecimento global.

Até onde os olhos dos cientistas do Painel Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC, em inglês) conseguem enxergar, o planeta mergulhará até 2100 em um aumento médio de 4º Celsius, o que bastará para uma profusão gradual, mas cada vez mais rápida, da ocorrência de tufões, enchentes, alagamentos, devastação de ilhas e regiões costeiras pelas águas oceânicas, entre outros fenômenos. Fala-se inclusive em uma redução da população mundial, que aliás já dobrou o cabo da boa esperança dos números há muito tempo, para algo em torno de 20 a 30% dos atuais 6 bilhões de almas.

Até aí, é o que todo mundo já leu, ouviu ou fagocitou de internet, amigos, TV. O problema, e talvez fonte maior da minha agonia atual, está no que diz o cientista James Lovelock no livro "A vingança de Gaia", presente dos amigos Ezio e Cindy. Lovelock é o criador da teoria de Gaia, segundo a qual o planeta Terra é um ser vivo e, como tal, responde às agressões como o corpo humano responderia a uma doença (no caso da Gaia, a doença é clara: o padrão de consumo, de produção e de exploração patrocinados pelo capitalismo atual). Para ele, mais do que nos preocuparmos com a sobrevivência de nossos descendentes num mundo onde as terras férteis e a água bebível serão disputadas na base da guerra (Waterworld?), deveríamos nos preocupar com a sobrevivência de todo o sistema Gaia, ou seja, do planeta vivo. A pergunta é: o que fazer hoje para que o planeta seja capaz de garantir, muito além da vida humana, quaisquer formas de vida?

Ele explica: durante seus últimos cerca de 4 bilhões, Gaia foi capaz de se reinventar continuamente, migrando de atmosferas iniciais dominadas pelo dióxino de carbono e pelo gás metano e enxofre (vulgo "pum"), para a atmosfera atual composta por oxigênio e hidrogênio. Até a chegada do oxigênio e, com ele, das primeiras formas mais complexas de vida, a Terra, então um planeta jovem, se auto-regulava com facilidade, pois as alterações vinham sempre de agentes externos, como meteoros, asteróides e tempestades solares.

Mas a vida floresceu com a vinda do oxigênio, e o resto você já pode imaginar. Veio o homem, veio a pedra lascada, veio o fogo, e com ele os primeiras queimadas e primeiros roçados. O homem, até então mergulhado em uma relação de simbiose com o planeta, passa ser seu único hospedeiro, interferindo na delicada harmonia do Globo. Nada que Gaia ainda não pudesse contornar, com suas mil maneiras de se manter resfriada e garantir a sobrevivência das espécies e sua própria, sendo esse seu objetivo maior.

E foi o que fez nosso planeta, até que, em 1789, a França colocou no poder do centro do mundo uma nova classe de seres humanos, ávidos por riqueza e poder, embora travestida do discurso da igualdade, fraternidade e liberdade. Século e meio depois, veio a Revolução Industrial, respaldando um novo modelo de vida já previamente germinado pelos anseios da burguesia européia. Fornos, máquinas, indústria, cidades. E o gráfico de emissões de CO2 subindo, em apenas 200 anos, quase um novo planeta Terra a mais do que nos últimos 200 mil.

Chegamos então à Terra como ela é hoje, um planeta maduro o bastante para já ter aprendido a se defender das agressões e desafios que sua história cósmica impôs, no entanto velho demais para encarar grandes empreitadas climáticas. Na minha cabeça, é como se Gaia fosse uma velhinha franzina de 100 anos tentando carregar no colo um menino obeso, chorão e pirraçento. De duas, uma: ou ela joga o menino no chão, ou ela vai ao chão com ele.

Pois bem. Para Lovelock, o esforço que Gaia, essa velhinha que nos segura no colo, terá de ser tão grande para equilibrar o menino gordo, que ela vai desabar, quebrar a bacia e nunca mais sair da UTI de um hospital público do Rio, até morrer de infecção hospitalar. E isso vai ser bem rápido, a não ser que esse menino comece um regime urgente, livre principalmente dos Big Mac e das Coca-Colas. E, ainda assim, a velhinha provavelmente vai pifar, porque o esforço que fez pra carregar o gorducho por tanto tempo lhe exauriu as energias mais elementares.

Em outras palavras: Lovelock aposta que a Terra não será mais capaz de se manter refrigerada no ponto mínimo não só para a sobrevivência do Homem, mas para sua própria, fazendo com que o calor suba a níveis insuportáveis que a tornarão literalmente estéril para o florescimento da vida (seja ela qual for). Nos tornaremos um Mercúrio em proporções terráqueas, uma pedra escaldante e morta.

Num próximo post, vou tentar escrever sobre algumas das idéias que os EUA estão bolando para interferir na escalada de calor, como os incríveis milhões de micro refletores de luz solar que pensam em colocar na órbita terrestre. Tabajara perde. Preparem seus corações.

Tuesday, February 06, 2007

Canção de ninar

Poeminha do meu mano, de tempos atrás. Só pra ter a doçura dessas palavras pertinho de mim. Só pra assustar um bocadinho esse boi da cara preta daqui de dentro do peito. Meu Deus, o que te deu na cabeça de botar cabelo branco em menina!


Olhos de mel

Nunca se esqueça
Que apesar destes dias de dureza
Que apesar destas noites sem estrelas
Haverá sempre a esperança
E a doçura em seus olhos de mel

Se sorri, e se chora agora
Tudo bem
Seus puros e tristes olhos de mel
Nasceram livres para trilhar caminhos
Que nem todos conseguem entender

Solidão, amor, pureza
Lágrimas, por que não?
Lágrimas não são sinal de fraqueza
São a união de sal e leveza
Como o encontro do mar com o amanhecer

Seja forte apenas
Não perca sua doçura, apenas seja forte
Para quando, por tortuosos vales descer
E encontrar a desilusão
Juntar forças, subir
E tornar a sorrir, então


(Para a menina dos olhos de mel)

"Escutas? É a chamada insistente dos atabaques"

Faz uma semana ou duas terminei de ler "O Ócio Criativo", do Domenico de Masi. Poderia listar aqui uns vinte motivos que fazem desse livro um dos meus "top ten", mas me restrigirei a somente um deles. Domenico é simplesmente um apaixonado pelo Brasil! Apaixonado como eu sou, meia cega, meia boba, dessas de chorar quando vê criança de projeto social, talvez seja pedir muito de alguém que vive em Roma. Mas, sem dúvida, o velhinho mostrou que é um amante e tanto de nossa Terra Brasilis. Que outra condição faria dele capaz de dedicar a deliciosa declaração aqui reproduzida, do que a paixão?

Completada a volta de meio mundo, onde é que desembarcamos?

No Brasil. Em Salvador, nas ruas calçadas do Pelourinho, avermelhadas pelo sangue antigo dos escravos. No Rio, na floresta encantada da Tijuca. Em Ouro Preto, nas frescuras das suas igrejas. Em São Paulo, no desespero das suas favelas. Nas praias de Angra e nas pousadas de Paraty. No plano-piloto de
Brasília, entre os honestos edifícios projetos por Niermeyer e os exóticos jardins esculpidos por Burle Marx.

Jorge Amado seria nosso guia: "Escutas? É a chamada insistente dos atabaques na noite misteriosa. Se vieres, soarão ainda mais forte, na batida potente da chamada do santo, e os deuses negros chegarão vindos das florestas da África para dançar em tua honra. Com os seus vestidos mais bonitos, dançarão suas danças inesquecíveis... Os ventos de Iemanjá serão só uma doce brisa na noite estrelada. Com ela não verás somente a casca amarela e luminosa da laranja. Verás também os gomos apodrecidos que dão nojo na boca. Porque assim é a Bahia, mistura de beleza e sofrimento, de abundância e fome, de riso alegre e lágrimas ardentes."

Em nenhum outro país do mundo a sensualidade, a oralidade, a alegria e a inclusividade conseguem conviver numa síntese tão incendescente. "Um povo mestiço, cordial, civilizado, pobre e sensível habita esta paisagem de sonho", insiste Jorge Amado.

A sensualidade é vivida pelos brasileiros como uma intensidade serena. Por "oralidade" eu entendo a capacidade de expressar os próprios sentimentos, de falar. Aquela atitude que no Japão, na China, nos países nórdicos, da Inglaterra à Suécia, é substituída pela incomunicabilidade recíproca e, nos casos extremos, pela solidão desesperada. Por inclusividade entendo a disponibilidade de acolher todos os diversos, de fazer conviver pacificamente, sincreticamente, todas as raças da Terra e todos os deuses do céu.

Todas essas coisas se tornam leves graças a uma disponibilidade perene e uma alegria natural, expressa através do corpo, da musicalidade e da dança. Oscar Niermeyer, que dedicou noventa e dois anos da sua vida à arquitetura, escreveu na parede do seu estúdio uma linda frase que, creio, diz assim: "Mais do que arquitetura, contam os amigos, a vida e este mundo injusto que
devemos resgatar".

É este o lugar: é no Brasil, neste país tão puro e tão contaminado, que eu gostaria de alimentar meu ócio criativo.

Não sou o suficiente

Não, eu não basto para tudo
Nem mesmo para mim mesma

Sou 50%
E, nessa condição,
eu me canso,
me afasto,
me arrasto,
hiberno,
corro pra a janela tomar fôlego

Deixo o ar me preencher, na falta do azul mar,
Azul anjo

Não, eu não basto para tudo
Sou 50%
E, nessa condição, eu me entrego
(à derrota? aos fatos? às convenções? à minha covardia?)
Eu me entrego ao "não"...
Não sou o bastante para mim

Sou 50%
Por isso não peço
Nada mais do que as coisas como elas são
A vida como ela é
A dor que dilacera

Dor: 100%
Quem sabe um dia eu me baste dela?!

Hoje sou humana
E não fada

Sou mulher
E não deusa

Sou matéria
E não luz

Hoje sou feita de saudade
Saudade do que nunca vivi
Saudade do que nunca me deixei viver
Por acreditar que eu me bastava

Monday, February 05, 2007

Interlúdio

Peço o perdão de meus amigos-leitores para o gosto um tanto amargo dos meus últimos textos e pensamentos. É que mulher só presta quando guarda um pouquinho de mar dentro do coração.
Deserto não serve.

Auto-ajuda em tempos de menopausa grobal


Então..tá. A desgraçêra tá anunciada. Nóis vai tudo cozinhar que nem picanha na brasa. Nossos netos vão torrar que nem palha de fumo. Nossos bisnetos, então, esses vão ser pulverizados que nem...peraí, teremos bisnetos? O mar vai continuar a subir por - no mínimo - os próximos mil anos, até que Cidade Ademar vire praia. Os povos vão se tornar tribos nômades novamente, lutando e errando por água e comida. Mad Max taí. Já posso ouvir os tambores da Cúpula do Trovão...

Resumo da bagaça: fodeu, meu amigo. Qualquer coisa que a gente fizer hoje terá a mesma eficácia do que cantar "Borbulhas de Amor", do Fagner, na frente de um prédio em chamas. Então, já que é assim, só nos resta reinventar ela...a auto-ajuda. Tal qual uma barata após a hecatombe nuclear, só ela sobrará num mundo devastado por guerras e total falta de valores.
Por isso, selecionei algumas constatações óbvias que, num futuro perto de você, farão diferença de mil graus celsius na luta para tirar o teu da reta e salvar tua ridícula e egoísta existência humana. Isso, é claro, se um tufãozinho meia-boca já não tiver varrido sua cidade do mapa.

"Pra que esquentar a cabeça, se o aquecimento global faz isso por mim?"

"A água acabou? Então passa essa cerveja logo pra cá!"

"Se é pra morrer em alto estilo, então vai, furacão, me abduz, me fagocita, me chama de rolo de feno"
(essa é pra quem sempre teve vontade de voar ou de entender as expressões "no olho do furacão" e "voando feno")

"Obrigada pelas palavras, padre. Agora dá licença que eu preciso roubar comida daquela criancinha indefesa"

"Querer é poder. Eu POSSO me segurar nessa tábua de madeira até encontrar terra firme."

"O Sol nasce pra todos. Infelizmente."
"Acolhe teu calor, e ele te derreterá"
(reinterpretação da máxima budista "Acolhe tua dor, e ela te abandonará")

"Obrigada pelas palavras, padre. Agora dá licença que eu preciso matar aquele cara que roubou comida daquela criancinha indefesa, e depois pegar a comida dele"

"Resolução de ano novo 1: guardar sementes"

"Resolução de ano novo 2: migrar para a floresta"

"Resolução de ano novo 3: procriar"

"Resolução de ano novo 4: assistir o Big Brother sem culpa"

"E, finalmente, se eu pudesse te dar um conselho, ele seria: NÃO use filtro solar. Que diferença mesmo isso fará?!"

Mãos (suadas) à obra!

Nossa, como eu estou especialmente otimista hoje!

Friday, February 02, 2007

Advinha que dia é hoje?

É o Dia da Marmota! ;-)

Não, desta vez não se trata do meu "dia eterno" aqui no trabalho, mas da data em que os americanos saem para observar a toca da marmota Monax, que anuncia a duração do inverno.

Segundo a tradição, se o animal sair da toca por estar nublado, isso significa que o inverno terminará mais cedo. Se, pelo contrário, o sol estiver brilhando e o animal se assustar com a sua sombra e voltar para a toca, então o inverno durará mais 6 semanas.

Informação super útil para nós, brasileiros.

Só desconfio que esse ano as marmotinhas ficarão meio confusas com os sinais cruzados de Gaya, a Toda Poderosa, aquecendo meio grau por ano de tanta raiva do Homem.

O jeito será migrar para o norte de mala e cuia e pedir para esses adoráveis bichinhos:
"Tem um canto pra gente aí na sua toca?"

Salvem as marmotas!

Eu, uma praiana

Pequeno surto individual inspirado no post "Vamos falar a verdade", da jornalista Juliana "Jubs" Winkel.

João Paulo II arrotava e soltava pum enquanto treinava o pronuciamento do dia seguinte. Madre Teresa de Calcutá aceitou dinheiro sujo de gangsters. Séculos antes, Jesus já havia ficado de porre na santa ceia e transado a noite inteira com Maria Madalena. 90% dos homens são mesmo egoístas. 90% das mulheres são muito covardes para assumir que não podem ser onipotentes.Você riu quando aquela velhinha caiu de bunda no chão. E quem não desejou, secretamente, tacar aquele nenê chorão na parede? Eu tive... Todo mundo pensa em suicídio, fraticídio, parricídio e aborto pelo menos uma vez na vida. Afinal, eu também tiro caquinha do nariz quando não tem ninguém olhando! Você também...

E para terminar, uma contribuição do meu irmão Luciano para este que seria o primeiro Manifesto Loser da história, caso, é claro, não fosse tão...loser:

"Loser que é loser não escreve manifesto, escreve PRÉ-manifesto"

Ahahaha!

Eu me divirto-me.